Há algum tempo que não comento
Angola, ainda bem para os dois lados porém, existe uma diferença abismal entre
Angola e aqueles que eu critico e por vezes xingo.
No entanto, sobre Angola, há
dois aspetos que são impossíveis de alguma vez eu mencionar, uma é odiar e
outra é esquecer.
Não obstante as diferenças
culturais, é lá que tenho a primeira raiz que desenvolvi, primeira raiz
desenvolvida naquela terra que me serviu de barriga para nascer porque na
verdade, nunca cheguei a conhecer outra, realidade é realidade e boas intenções
está o inferno cheio.
Depois há o aspeto de aquela
terra, ter assumido comigo desde a infância, o papel da verdadeira Mãe,
ensinou-me tudo para enfrentar a vida, infelizmente limitou-se a ensinar-me as
partes boas, não sei das suas razões mas omitiu-me a desonestidade, o espirito
corrupto, essas coisas todas que norteiam a sociedade dos mwatas por lá. Talvez
a saudade me leve a recordar bastas vezes, minha primeira namorada lá no mato, Foi
por ela que a Mãe Angola me deu a primeira lição da minha diferença. Uma manhã
ela chegou ofegante para irmos no rio banhar mas deteve-me e séria olhou-me bem
nos olhos e pergunta de chofre. – Tu é branco?!
Perguntou e ficou aos saltinhos
de nervosa à minha frente esperando a resposta. Entre a pergunta que não
entendi de todo e as mamitas dela a acompanharem os pulinhos que ela dava,
menos fiquei a entender.
Não respondi à questão dela
porque na verdade não entendi o que ela quis saber, ela no entanto passou resto
do tempo, até dentro de água a encostar o braço dela ao meu para comparar as
tonalidades e fazia aquela cara característica destas ocasiões, mas que porra!!
Bom, depois fomos proibidos de
nos vermos, parecia que estávamos a cometer um crime contra a humanidade mas
proibições no mato, é escrever leis no gelo, entre nós aprendemos, ela era
preta e eu branco mas nunca vimos onde residia o raio da diferença.
Esta primeira lição de racismo
foi importante depois quando fiquei simpatizante do MPLA, aqui sim era racismo
a sério e bem sofisticado mas diluíam tudo com sorrisos e palmadinhas amigáveis
nas costas.
Ainda fui convidado para alguns
departamentos para, segundo quem me convidava, ir colorir o espaço, recusei
todos os convites destes ou que eu suspeitava subentenderem isso.
Tinha coisas divertidas isso do
racismo, um dia foi a Luanda um importante craque português da música erudita,
foi tocar lá no campo do Petro.
Meteu-se a explicar coisas do
Beethoven, e esses gajos, às tantas foi infeliz e atira para o público- Agora
experimentem tocar Schubert só com as teclas brancas e demonstrou a cena dele.
Teve azar no público que
arranjou atirei-lhe do meio do povo. – Oh doutor toca aí Chopin só com teclas
pretas.
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