segunda-feira, julho 15, 2024

variações em e-menor - 14/07/2024; 13:40


Há algum tempo que não comento Angola, ainda bem para os dois lados porém, existe uma diferença abismal entre Angola e aqueles que eu critico e por vezes xingo.

No entanto, sobre Angola, há dois aspetos que são impossíveis de alguma vez eu mencionar, uma é odiar e outra é esquecer.

Não obstante as diferenças culturais, é lá que tenho a primeira raiz que desenvolvi, primeira raiz desenvolvida naquela terra que me serviu de barriga para nascer porque na verdade, nunca cheguei a conhecer outra, realidade é realidade e boas intenções está o inferno cheio.

Depois há o aspeto de aquela terra, ter assumido comigo desde a infância, o papel da verdadeira Mãe, ensinou-me tudo para enfrentar a vida, infelizmente limitou-se a ensinar-me as partes boas, não sei das suas razões mas omitiu-me a desonestidade, o espirito corrupto, essas coisas todas que norteiam a sociedade dos mwatas por lá. Talvez a saudade me leve a recordar bastas vezes, minha primeira namorada lá no mato, Foi por ela que a Mãe Angola me deu a primeira lição da minha diferença. Uma manhã ela chegou ofegante para irmos no rio banhar mas deteve-me e séria olhou-me bem nos olhos e pergunta de chofre. – Tu é branco?!

Perguntou e ficou aos saltinhos de nervosa à minha frente esperando a resposta. Entre a pergunta que não entendi de todo e as mamitas dela a acompanharem os pulinhos que ela dava, menos fiquei a entender.

Não respondi à questão dela porque na verdade não entendi o que ela quis saber, ela no entanto passou resto do tempo, até dentro de água a encostar o braço dela ao meu para comparar as tonalidades e fazia aquela cara característica destas ocasiões, mas que porra!!

 

Bom, depois fomos proibidos de nos vermos, parecia que estávamos a cometer um crime contra a humanidade mas proibições no mato, é escrever leis no gelo, entre nós aprendemos, ela era preta e eu branco mas nunca vimos onde residia o raio da diferença.

 

Esta primeira lição de racismo foi importante depois quando fiquei simpatizante do MPLA, aqui sim era racismo a sério e bem sofisticado mas diluíam tudo com sorrisos e palmadinhas amigáveis nas costas.

Ainda fui convidado para alguns departamentos para, segundo quem me convidava, ir colorir o espaço, recusei todos os convites destes ou que eu suspeitava subentenderem isso.

 

Tinha coisas divertidas isso do racismo, um dia foi a Luanda um importante craque português da música erudita, foi tocar lá no campo do Petro.

Meteu-se a explicar coisas do Beethoven, e esses gajos, às tantas foi infeliz e atira para o público- Agora experimentem tocar Schubert só com as teclas brancas e demonstrou a cena dele.

Teve azar no público que arranjou atirei-lhe do meio do povo. – Oh doutor toca aí Chopin só com teclas pretas.


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