Metade de mim
Assassinada
Atirada a canibais
Já não era nada
Mas era de mim
Ainda viva
Talvez se revolte
E no fim
Ainda volte
Livre de teias
Para nova vida
Longe de animais
Voltou uma metade
Meia morta
Meia viva
Devagarinho
Bateu à porta
Veio ver os carrascos
A definharem
De mansinho
Podres
E sem utilidade
Uns barrascos
A chafurdarem
Meus algozes
Vim ver
Apodreceram
Estão a definhar
Já não oiço vozes
Estão a morrer
Mas recusam-se
A deitar
Minha metade
Maldita
Amaldiçoada
Abandonada
Sem direito
De céu nem olhar
Purgatório nem inferno
Condenada
A nada
Por pecado mortal
De pensar
Lembrando bem
Já tive alma
Talvez
Ainda possa ter
Não sonhei
Saber de saber
Esqueci
Por onde andei
Foi uma vez
Uma estória bonita
Bem vivida
Porém
A bem dizer
Até diria
Mas não sei
Segredo da Vida
Está na Morte
Segredo da Morte
Está na Vida
Segredo é assim
Um segredo
Nada mais a dizer
Procurar não sofrer
É mistério a Vida
É mistério a Morte
Uma ilusão fiável
Engano fuga e sorte
Para nada
Somos este colete
Simples implacável
Vida e Morte
Por vezes sim
Outras não
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